O que é?
Os distúrbios de sono envolvem diversas condições clínicas que afetam negativamente órgãos e sistemas, repercutindo no sono e no período de vigília de modo substancial e comprometendo a qualidade de vida geral.
A insônia é um distúrbio comum, definido pela dificuldade em iniciar o sono e/ou em mantê-lo, bem como pelo acordar muito cedo de forma indesejada por pelo menos 3 meses.
Outros distúrbios existentes incluem a síndrome das pernas inquietas e a narcolepsia, caracterizada por sonolência excessiva diurna, cataplexia (perda súbita do tônus muscular associado a emoções) e alterações como paralisia do sono e alucinações hipnagógicas.
O principal distúrbio do sono, associado também a um comprometimento respiratório e especialmente relacionado à ocorrência de doenças cardiovasculares, compreende a apneia obstrutiva do sono (AOS).
A AOS possui como fator de risco principal a obesidade, mas também está associada ao sexo masculino, ao envelhecimento e ao tabagismo, bem como a anormalidades craniofaciais e ao hipotireoidismo.
O distúrbio é caracterizado pelo colapso das vias aéreas superiores de maneira frequente durante o sono, ocasionando hipóxia intermitente e fragmentação do sono.
Além da hipoxemia, uma hipercapnia também pode ocorrer no quadro, resultando em um stress hemodinâmico que pode iniciar mecanismos fisiopatológicos de diversas comorbidades, como ativação simpática, aumento da liberação de substâncias vasoativas, estresse oxidativo e inflamação sistêmica. Assim, a AOS está associada a consequências metabólicas, cardiovasculares e neurocognitivas.
Sinais e Sintomas de Distúrbios do Sono
As manifestações da AOS podem ser classificadas em diurnas e noturnas. Os sintomas diurnos incluem fadiga e sonolência excessiva, alterações de personalidade, esquecimento, cefaleia matinal e comportamentos automáticos.
Os sintomas noturnos incluem ronco associado à apneia, despertares com sensação de sufocamento, insônia de manutenção e refluxo gastroesofágico.
Como diagnosticar?
A suspeita de AOS ocorre através da impressão clínica, mas o diagnóstico é confirmado pela polissonografia, método padrão-ouro, ou pelo monitor portátil, que viabiliza a monitorização do sono residencial.
Os critérios para o diagnóstico incluem a presença de eventos obstrutivos durante a avaliação associados à presença de um ou mais dos fatores:
- queixa de sonolência;
- sono não reparador;
- fadiga ou sintomas de insônia;
- despertar com suspensão da respiração;
- respiração ofegante ou asfixia;
- relato de ronco habitual, interrupções de respiração ou ambos durante o sono por um parceiro ou observador;
E ainda, diagnóstico de hipertensão, distúrbio do humor, disfunção cognitiva, doença arterial coronariana, acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca congestiva, fibrilação atrial ou diabetes mellitus tipo 2.
A gravidade da doença pode ser determinada pelo índice de apneia e hipopneia, que demonstra o número médio dos eventos de apneia e hipopneia por hora de sono.
Classifica-se a condição como leve quando os eventos obstrutivos por hora de sono equivalem a 5 a 14,9, moderada quando os eventos equivalem a 15 a 29,9; e grave quando existem 30 ou mais eventos obstrutivos. Conforme há uma maior gravidade, as condições clínicas associadas à doença tornam-se mais prevalentes.
Tratamento
O tratamento da AOS pode incluir medidas comportamentais, como evitar posição supina e o uso de álcool, especialmente antes de dormir, praticar atividade aeróbica regular e instituir a perda de peso.
Considerando a grande associação da apneia obstrutiva do sono à insônia, a inserção de terapia cognitivo-comportamental também constitui importante estratégia para a melhora da qualidade de vida dos portadores.
O uso de aparelho intraoral é uma opção eficaz, especialmente nos casos de AOS leve ou moderada. Este dispositivo promove um aumento do volume das vias aéreas superiores, uma vez que estabelece o avanço da mandíbula em relação à maxila, alterando a configuração da estrutura da língua. Assim, reduz os efeitos que configuram o distúrbio.
O tratamento de escolha para os casos moderados ou graves envolve a terapia com pressão positiva contínua de vias aéreas (CPAP). A terapia com CPAP é considerada padrão-ouro na apneia obstrutiva do sono e está associada à diminuição das limitações para atividades cotidianas.
Este fato contribui para um maior envolvimento em atividades físicas, o que pode reduzir a ocorrência dos eventos cardiovasculares e promover outros benefícios positivos a longo prazo, incluindo a perda de peso, o principal fator de risco para a AOS.
O tratamento cirúrgico é indicado para casos selecionados, sendo frequentemente implementado frente à intolerância ao uso de CPAP.
Complicações
A AOS está associada ao aumento na incidência de hipertensão arterial sistêmica e de arritmias cardíacas, como a fibrilação atrial. Do mesmo modo, pode contribuir para o remodelamento do ventrículo esquerdo de forma independente da hipertensão, e com o aumento da gravidade da doença, há uma maior frequência de disfunção sistólica e diastólica.
A presença do distúrbio também pode aumentar a incidência de insuficiência cardíaca e piorar a evolução desta em portadores prévios.
Existem evidências de exacerbação das alterações metabólicas e inflamatórias nos casos de síndrome metabólica e uma associação com o processo de aterosclerose, contribuindo para a doença arterial coronariana e para a ocorrência de acidente vascular encefálico.
Prevenção
A prevenção dos distúrbios do sono deve ser estabelecida através da intervenção precoce nos fatores predisponentes. Considerando a obesidade como importante causa da apneia obstrutiva do sono, é fundamental investir na manutenção de um peso adequado, com o estabelecimento de hábitos de vida saudáveis que também interferem positivamente nos fatores cardiovasculares e metabólicos.
A abordagem psicológica para o reconhecimento de gatilhos de insônia e outros transtornos associados também contribui para melhorar a qualidade de vida dos indivíduos e prevenir as complicações provenientes.