Dr José Ronaldo

O que é?

O tabagismo é uma doença epidêmica decorrente da dependência à nicotina, uma substância psicoativa que estimula o sistema nervoso central relacionado à recompensa. O risco de dependência é associado à liberação de neurotransmissores durante o uso do tabaco, como a dopamina, que promove a sensação de prazer, gerando um reforço positivo e a necessidade de repetição, bem como a inibição do sistema ácido gama-aminobutírico (GABA), o que promove sensação de bem-estar mais intensa e duradoura.

Com a progressão do uso, uma maior quantidade de nicotina passa a ser necessária para manter as sensações, caracterizando o quadro de tolerância e, assim, gera-se a dependência química.

Além da nicotina, os cigarros contêm mais de 7.000 substâncias tóxicas que impactam na saúde de tabagistas e fumantes passivos, com efeitos hemodinâmicos como: aumento da pressão arterial e da frequência cardíaca; alteração do fluxo sanguíneo das coronárias; desequilíbrio entre oferta e demanda de oxigênio; dano endotelial e trombose; e inflamação crônica.

Mesmo as novas formas de tabagismo atuais, como os cigarros eletrônicos, associam a nicotina a substâncias vaporizadoras ou fornecedoras de sabores que causam efeitos potencialmente indutores de risco.

Sabe-se que o seu consumo agudo também é causador de disfunção endotelial, dano ao material genético e estresse oxidativo, além de aumentar o risco de infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico e neoplasias de cavidade oral e esôfago.

Sinais e Sintomas

Além das manifestações decorrentes das complicações do tabagismo, que incluem sintomas respiratórios, cardiovasculares e gástricos, existem sintomas constitutivos da síndrome de abstinência à nicotina. Estes envolvem manifestações neurocomportamentais, incluindo:

  • ansiedade,
  • inquietude,
  • irritabilidade,
  • dificuldade de concentração e de memória,
  • insônia e humor deprimido,
  • sudorese,
  • tontura,
  • tremores,
  • aumento do apetite,
  • ganho de peso,
  • incoordenação motora e fissura

Como diagnosticar?

Considera-se como dependente o indivíduo que apresenta pelo menos três dos seguintes critérios:

  • desejo forte e compulsivo para consumir a substância;
  • dificuldade para controlar o uso;
  • estado de abstinência diante da suspensão ou da redução;
  • evidência de tolerância; abandono progressivo de outros prazeres em detrimento do uso de substâncias psicoativas;
  • aumento do tempo empregado para conseguir ou consumir a substância ou recuperar-se de seus efeitos; 
  • persistência no uso apesar de evidentes consequências.

O grau da dependência é avaliado através do Teste de Fagerström, composto por 6 perguntas que avaliam a rotina do fumante.

As questões envolvem a avaliação: do tempo de início de fumo após acordar; da quantidade de cigarros fumados por dia; de qual cigarro do dia traz maior satisfação; se a maior frequência do fumo é pela manhã; se é uma tarefa difícil não fumar em lugares proibidos; e se, mesmo doente, com a necessidade de estar acamado, o indivíduo faz uso do tabaco.

Respostas afirmativas associadas ao uso de maior quantidade de cigarros e maior prática pela manhã estabelecem uma maior gravidade para a dependência, podendo configurar um grau de dependência muito elevado.

Tratamento: o que fazer para “parar de fumar”?

Todos os fumantes em tratamento devem receber um aconselhamento terapêutico estruturado baseado na terapia cognitivo-comportamental, seja ela em sessões individuais ou em grupos de apoio.

Para a definição de um tratamento individualizado e eficaz, é importante conhecer a história tabágica e patológica do fumante, avaliar o grau de sua dependência e a motivação para a cessação, parâmetro fundamental para a efetividade do tratamento.

A intervenção nos fatores estressores que constituem o cotidiano dos fumantes, do mesmo modo, compõe o cuidado a este grupo, uma vez que o desejo e a probabilidade de fumar aumentam com a presença de eventos estressantes em indivíduos que buscam a cessação do tabagismo.

A definição da necessidade de medicações além destas abordagens também é estabelecida na rotina do aconselhamento, sendo a terapia medicamentosa indicada para a dependência à nicotina na ausência de contraindicações clínicas.

A farmacoterapia baseia-se na Terapia de Reposição de Nicotina (TRN), com adesivos, gomas e pastilhas. O uso de Cloridrato de Bupropiona também deve ser considerado, principalmente em pacientes com contraindicação ao uso da TRN ou com transtornos psiquiátricos. 

A Vareniclina, assim como a Bupropiona, também é um fármaco de primeira linha, constando-se evidências de uma maior eficácia do tratamento com a associação de ambos os fármacos em indivíduos que exibem altos níveis de dependência e que não respondem aos adesivos de nicotina. A Clonidina e a Nortriptilina constituem opções de segunda linha no tratamento.

Complicações

O uso de tabaco é um importante fator causal de diferentes doenças fatais, como doenças cardiovasculares e respiratórias crônicas e câncer (Brasil, 2020c). Desse modo, os fumantes apresentam uma expectativa de vida menor.

O tabagismo está associado ao risco de acidente vascular encefálico e ao aumento da pressão arterial e suas complicações, incluindo declínio da função renal e morte, bem como à ocorrência de aneurismas. Além disso, associa-se à insuficiência cardíaca e a distúrbios de ritmo cardíaco, com aumento da frequência de fibrilação atrial e taquicardia ventricular.

O risco de doença isquêmica cardíaca e a mortalidade vinculada aumentam com o tempo de fumo e o número de cigarros/dia, mas a ameaça existe em todos os níveis de consumo, inclusive entre fumantes passivos.

Além dos efeitos cardiovasculares e cerebrovasculares, a nicotina também afeta o desenvolvimento neurológico, e durante a gestação, pode resultar em múltiplas complicações, como a síndrome da morte súbita infantil.

Prevenção

A prevenção primordial, que envolve prevenir o início do fumo precocemente, é fundamental para o controle do tabagismo. Ela deve ser instituída mediante a disseminação dos riscos associados à prática e na modulação do ambiente estressor e propenso ao início do uso.

Quando instituído, a cessação é a medida mais eficaz para a prevenção das doenças relacionadas ao tabaco, e qualquer forma de tabagismo deve ser interrompida. Sua cessação promove melhora da respiração e da circulação de forma quase imediata e diminui os riscos de infarto e acidente vascular encefálico com o decorrer dos anos. Após 20 anos, o risco de câncer de pulmão iguala-se ao de não fumantes.

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