O que é?
O excesso de peso corporal, que compreende o sobrepeso, é um importante parâmetro a ser avaliado no cuidado à saúde, uma vez que, se não abordado devidamente, evolui para a obesidade. Esta consiste em uma condição crônica multifatorial, cujo desenvolvimento decorre da interação entre um perfil genético de maior risco e fatores sociais, ambientais e comportamentais, como estados crônicos de estresse, redução de horas de sono, consumo de frituras e produtos ultraprocessados e inatividade física (Brasil, 2020b).
No processo de obesidade, existe um balanço energético positivo levando à hiperplasia e à hipertrofia das células adiposas para que a energia em excesso seja armazenada na forma de triglicerídeos. Isso resulta em uma alteração da composição celular e na maior secreção de hormônios e citocinas, e com o recrutamento de células inflamatórias, há inflamação e alterações metabólicas, precipitando o surgimento de diversas comorbidades e complicações (Brasil, 2020b).
Determinadas condições clínicas também estão associadas à ocorrência de obesidade, como a síndrome de Cushing e outros distúrbios endócrinos, depressão, transtornos alimentares e uso de medicamentos, incluindo antidepressivos tricíclicos, contraceptivos orais e glicocorticoides. Os impactos da obesidade comprometem não só a saúde física do indivíduo, mas interferem em sua qualidade de vida, abalam a autoestima e a capacidade de interação social e reduzem sua expectativa de vida (Apovian et al., 2015).
Sinais e Sintomas
As manifestações clínicas de sobrepeso e obesidade envolvem sinais e sintomas característicos das condições crônicas associadas, como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono, depressão, doença hepática gordurosa não alcoólica e osteoartrite (Apovian et al., 2015).
Como diagnosticar?
O índice de massa corporal (IMC), calculado pela divisão entre o peso em quilogramas e a altura em metros elevada ao quadrado, é o método mais utilizado para a avaliação da adiposidade corporal e é adequado para o rastreamento inicial de sobrepeso/obesidade. Porém, considerando suas limitações relacionadas às diferenças entre sexo, idade e etnia, sem a distinção de massa magra e gordurosa, o ideal é que seja utilizado em conjunto a outros métodos. Nesse sentido, a medida da circunferência abdominal é consideravelmente vinculada à gordura corporal total e sua associação com o IMC oferece uma forma combinada de avaliação de risco, ajudando a diminuir as limitações dos métodos isolados (ABESO, 2016).
Em adultos, o IMC normal é de 18,5 a 24,9 kg/m²; abaixo de 18,5 kg/m² considera-se baixo peso, entre 25 e 29,9 kg/m² classifica-se como sobrepeso, entre 30 e 34,9 kg/m² como obesidade grau I, entre 35 e 39,9 kg/m² como obesidade grau II e igual ou superior a 40,0 kg/m² como obesidade grau III. Em idosos, o IMC normal varia de maior que 22 a menor que 27 kg/m², pela diminuição de massa magra e pelo risco de sarcopenia. A medida da circunferência abdominal recebe como ponto de corte para risco cardiovascular aumentado, segundo a Federação Internacional de Diabetes, uma medida igual ou superior a 94 cm em homens e a 80 cm em mulheres, em indivíduos europeus, e uma medida igual ou superior a 90 cm em homens e a 80 cm em mulheres, em indivíduos americanos (ABESO, 2016; Brasil, 2020b).
Tratamento
O estabelecimento de uma rotina composta por hábitos alimentares saudáveis e pela prática de atividade física regular promove a perda de peso e auxilia na manutenção deste a longo prazo, devendo ser implementado para todos os indivíduos com sobrepeso e obesidade (Brasil, 2020b). Além da manutenção de peso adequado, a qualidade nutricional está associada à melhora do perfil lipídico e à redução de doenças cardiovasculares, devendo-se instituir dietas ricas em vegetais, frutas e fibras e com menores quantidades de carne vermelha (Lopez-Jimenez et al., 2022).
A prática regular de atividade física também reduz o risco de doenças cardiovasculares, permitindo uma melhora da função endotelial, estabilizando placas vulneráveis e reduzindo a demanda de oxigênio do miocárdio (Koolhaas et al, 2017). Além disso, suporte psicológico e definição de um plano terapêutico individualizado, considerando as necessidades e particularidades do indivíduo, são fatores determinantes do sucesso do processo de perda de peso (Brasil, 2020b).
Os medicamentos podem ser usados como adjuvantes da modificação comportamental. Recomenda-se sua inclusão nos casos de IMC igual ou superior a 27 kg/m² com presença de comorbidades (hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus tipo 2 e apneia obstrutiva do sono) ou IMC acima de 30 kg/m²; os fármacos podem ampliar a adesão à mudança de comportamento e melhorar o funcionamento físico. A cirurgia bariátrica é indicada em casos de IMC igual ou superior a 35 kg/m² com comorbidades ou IMC acima de 40 kg/m². Em indivíduos portadores de diabetes mellitus tipo 2, sugere-se o uso de antidiabéticos que possuam ações adicionais de perda de peso, como os análogos do peptídeo-1 semelhante ao glucagon (aGLP-1), incluindo a Liraglutida, ou os iSGLT2 e até mesmo a Metformina (Apovian et al., 2015; ABESO, 2016).
A Sibutramina é um fármaco simpatomimético aprovado para o tratamento da obesidade e reduz a ingestão alimentar, podendo também ser considerada em pacientes sem antecedentes de doença cardiovascular ou cerebrovascular e com hipertensão arterial controlada. Em indivíduos com doença cardiovascular, sugere-se o uso de medicamentos não simpatomiméticos, como o Orlistat (ABESO, 2016).
Complicações
O tecido adiposo libera substâncias que influenciam negativamente na função cardíaca, acelerando processos ateroscleróticos, inflamação e disfunção do endotélio e da coagulação (Koolhaas et al, 2017). Assim, a presença de sobrepeso e obesidade está fortemente relacionada a doenças cardiovasculares e ao maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, incluindo diabetes, doença renal crônica, doenças musculoesqueléticas e determinados tipos de câncer, como de esôfago, cólon e reto e pâncreas (Afshin et al., 2017; Brasil, 2020b).
Prevenção
A prevenção do sobrepeso e da obesidade constitui fator essencial para a prevenção das doenças cardiovasculares, uma vez que estão incluídos entre os principais fatores para a ocorrência destas comorbidades. Mesmo que as respostas individuais variem de forma ampla, as modificações no estilo de vida contribuem de forma importante na perda de peso e devem incluir uma nutrição saudável e a prática de atividade física. As reduções do peso corporal relacionadas às mudanças de hábitos prejudiciais à saúde resultam em melhorias gerais na qualidade de vida e reduzem as taxas de morbimortalidade associadas ao infarto, à insuficiência cardíaca e ao acidente vascular encefálico (Lopez-Jimenez et al., 2022).