Dr José Ronaldo

A pressão alta ou hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível multifatorial, associada a fatores genéticos/epigenéticos, ambientais e sociais. É caracterizada pela elevação persistente da pressão arterial (PA), com valores de PA sistólica (PAS) igual ou superior a 140 mmHg e/ou de PA diastólica (PAD) igual ou superior a 90 mmHg, medidos com técnica correta, em pelo menos duas ocasiões distintas, sem o uso de medicação anti-hipertensiva.

A pressão arterial é classificada de formas distintas, com graus diferentes de hipertensão direcionando o tratamento anti-hipertensivo. Uma PA ótima inclui valores menores que 120/80 mmHg, enquanto a PA normal envolve valores de PAS entre 120 e 129 mmHg e/ou de PAD entre 80 e 84 mmHg. Um indivíduo é considerado pré-hipertenso quando apresenta valores de PAS entre 130 e 139 mmHg e/ou de PAD entre 85 e 89 mmHg.

Assim, valores acima destes cortes constituem a hipertensão arterial, que pode ser classificada em 3 estágios: o estágio 1 inclui valores de PAS entre 140 e 159 e/ou de PAD entre 90 e 99; no estágio 2, há valores de PAS entre 160 e 179 e/ou de PAD entre 100 e 109; e o estágio 3, por fim, inclui valores iguais ou superiores a 180 e/ou 110 de PAS e PAD, respectivamente.

Os fatores de risco para a hipertensão arterial compreendem envelhecimento, sobrepeso/obesidade, sedentarismo, ingestão elevada de sódio e álcool e uso inadequado de determinadas medicações.

No geral, a pressão alta e suas complicações derivam da disfunção do endotélio, camada que reveste interiormente os vasos, com um desequilíbrio local entre fatores de relaxamento e constrição das arteríolas. Ocorre um aumento da resistência vascular periférica e uma alteração da permeabilidade endotelial, o que propicia, inclusive, o desenvolvimento da aterosclerose.

Sinais e Sintomas

Os sintomas de pressão alta são, comumente, uma condição assintomática, associando-se a sinais e sintomas conforme ocorre a evolução da doença e o comprometimento de órgãos-alvo, com cefaleia, vertigem, síncope, alterações do nível de consciência, deficiência visual, papiledema, retinopatia, dor torácica, dispneia, edema, poliúria, hematúria e desidratação.

A presença de sinais e sintomas também caracteriza a hipertensão secundária, causada por condições como apneia obstrutiva do sono, doença renal crônica, hipertensão renovascular, displasia fibromuscular, coarctação da aorta, aldosteronismo primário, feocromocitoma, síndrome de Cushing, doenças da tireoide e hiperparatireoidismo.

Como diagnosticar?

O diagnóstico de hipertensão arterial (pressão alta) não é baseado em um único conjunto de leituras da PA em um mesmo momento, pois a condição é definida pela alteração dos valores em pelo menos duas ocasiões diferentes.

Excede-se à regra os casos de elevação substancial dos valores, com hipertensão estágio 3, e diante evidência clara de lesão de órgãos-alvo. Nos demais pacientes, as visitas subsequentes no consultório devem incluir medidas repetidas da PA para confirmar uma elevação persistente e classificar o seu estágio. Portanto, a PA deve ser avaliada em todo atendimento médico.

A realização de medidas fora do consultório, que podem ser obtidas através da medida ambulatorial da pressão arterial (MAPA) ou da medida residencial da pressão arterial (MRPA), consiste em uma estratégia alternativa para confirmar o diagnóstico de hipertensão arterial, desde que seja viável, e pode gerar informações complementares para o acompanhamento da hipertensão.

Tratamento da Pressão Alta

O tratamento para a hipertensão arterial é composto por medidas não farmacológicas e farmacológicas. A terapia não medicamentosa é integrada por condutas como: perda de peso, realização de atividade física, cessação do uso abusivo de álcool e implementação de um padrão alimentar saudável, com uma abordagem dietética para interromper a hipertensão (DASH) composta por alto teor de potássio, cálcio, magnésio e fibras, baixa ingesta de colesterol e gorduras total e saturada e restrição de sódio. As intervenções no estilo de vida devem estar presentes em todos os estágios da hipertensão.

Para a terapia medicamentosa anti-hipertensiva, as principais classes existentes são os inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA), os bloqueadores dos receptores de angiotensina II (BRA), os diuréticos (DIU), os bloqueadores dos canais de cálcio (BCC) e os betabloqueadores (BB), sendo estes úteis em situações pós-infarto agudo do miocárdio e angina, na insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida e para controle de frequência cardíaca.

O tratamento da pressão alta pode ser realizado em monoterapia, nos casos de pré-hipertensão com risco cardiovascular alto, de hipertensão estágio 1 com risco cardiovascular baixo e em indivíduos muito idosos e/ou frágeis. Na hipertensão estágio 1 de riscos moderado e alto e nos demais estágios, parte-se para a combinação de fármacos, com associação progressiva em caso de não alcance das metas.

Valores pressóricos elevados podem causar alterações estruturais ou funcionais em órgãos como coração, cérebro, olhos e rins e vasos sanguíneos, constituindo lesões em órgãos-alvo. Sua presença aumenta o risco cardiovascular e, se não abordada precocemente, pode tornar-se irreversível.

O risco cardiovascular também é influenciado por outros fatores, como sexo, idade, tabagismo, diabetes, dislipidemia, história familiar de doença cardiovascular prematura, doença cardiovascular ou renal estabelecida, sedentarismo, sobrepeso e obesidade, dentre outros, com um aumento deste proporcional à elevação dos valores pressóricos.

Nesse sentido, a hipertensão arterial é relacionada à incidência de diversos eventos cardiovasculares, como acidente vascular encefálico, doença arterial periférica, infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca e doença renal terminal. A elevação da pressão arterial também ocasiona um risco aumentado para o desenvolvimento de fibrilação atrial e para a ocorrência de declínio cognitivo e demência, que estão associados a estágios mais graves da doença.

Prevenção

A hipertensão arterial é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares, doença renal crônica e morte prematura. Assim, focar na prevenção da condição, evitando a elevação dos valores pressóricos e, quando estabelecida, impedindo sua progressão, é uma importante estratégia para garantir maior qualidade de vida e menor morbidade e mortalidade por eventos evitáveis.

Sabe-se que a prática regular de exercícios físicos melhora a função endotelial e, portanto, faz-se uma importante estratégia para prevenir e tratar a hipertensão arterial, reduzindo o risco de acidente vascular encefálico, doença arterial coronariana e mortalidade.

A redução dos valores pressóricos em resposta aos exercícios físicos assemelha-se, inclusive, às obtidas com medicamentos anti-hipertensivos. Além disso, readequações dietéticas também constituem medida eficaz para a minimização da doença.

É evidente como modificações intensas no estilo de vida de forma precoce, incluindo a prática regular de atividades físicas e adaptações dietéticas, podem reverter e retardar o dano vascular ocasionado pela hipertensão.

Portanto, hábitos saudáveis devem ser implementados para o manejo correto da doença e para a sua prevenção, reduzindo os seus riscos e a ocorrência de danos para promover uma vida mais saudável.

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