Dr José Ronaldo

O que é?

A dislipidemia consiste em um distúrbio no metabolismo lipídico e envolve o aumento do colesterol total, dos triglicerídeos e da lipoproteína de baixa densidade (LDL), bem como a diminuição da lipoproteína de alta densidade (HDL).

O colesterol atua na fluidez das membranas celulares e na ativação de suas enzimas, além de ser precursor de hormônios esteroides, dos ácidos biliares e da vitamina D. Já os triglicerídeos representam uma das mais importantes formas de armazenamento energético do organismo, com seu depósito ocorrendo em músculos e tecido adiposo.

As lipoproteínas são os complexos moleculares responsáveis por transportar os lipídeos no sangue. A LDL é composta principalmente por colesterol, tendo um volume residual de triglicerídeos, e é capturada por seus receptores em células hepáticas e periféricas.

A HDL é composta por colesterol livre recebido de membranas celulares e atua no transporte de colesterol até o fígado, além de promover proteção ao leito vascular, uma vez que remove lipídeos oxidados da LDL atuantes no processo de aterogênese.

A dislipidemia pode envolver uma causa primária, quando o distúrbio lipídico é de origem genética, ou secundária, sendo decorrente de hábitos inadequados, uso de medicamentos ou outras condições.

Pode, ainda, ser classificada como hipercolesterolemia isolada, quando há um aumento isolado do LDL-colesterol (igual ou superior a 160 mg/dL), hipertrigliceridemia isolada, quando há um aumento isolado dos triglicérides  (igual ou superior a 150 mg/dL ou a 175 mg/dL se em jejum), hiperlipidemia mista, quando há um aumento do LDL-colesterol e dos triglicérides, e HDL-colesterol baixo, com valores menores que 40 mg/dL em homens e menores que 50 mg/dL em mulheres, podendo ocorrer de forma isolada ou associada ao aumento de LDL-colesterol ou triglicérides.

Sinais e Sintomas

A dislipidemia é uma condição comumente assintomática. Ela está associada a manifestações clínicas, com maior frequência, em sua forma genética, incluindo a ocorrência de xantomas eruptivos, xantomas tuberosos e palmares, xantelasmas, arco córneo e lipemia retinalis. Outras manifestações relacionam-se às consequências de eventos cardiovasculares.

Como diagnosticar?

O diagnóstico de dislipidemia é baseado na dosagem dos lipídeos séricos. Os valores desejáveis em adultos maiores de 20 anos com jejum de 12 horas incluem colesterol total menor que 190 mg/dL, HDL-colesterol maior que 40 mg/dL e triglicerídeos menor que 150 mg/dL. O valor referencial das dosagens sem jejum é alterado apenas na avaliação dos triglicerídeos, sendo o desejável menor que 175 mg/dL.

Os valores de LDL-colesterol desejáveis com ou sem jejum são definidos de acordo com a categoria de risco cardiovascular, sendo em baixo risco menor que 130 mg/dL, em risco intermediário menor que 100 mg/dL, em risco alto menor que 70 mg/dL e em risco muito alto menor que 50 mg/dL.

Valores de colesterol total igual ou superior a 310 mg/dL em adultos e igual ou superior a 230 mg/dL em crianças e adolescentes podem ser indicativos de hipercolesterolemia familiar, se excluídas as causas secundárias.

Nestes casos, devem ser avaliados os critérios diagnósticos da hipercolesterolemia familiar, que incluem fatores da história clínica, da história familiar e do exame físico, como a presença de xantoma tendinoso ou arco córneo antes dos 45 anos, bem como o nível de LDL-colesterol e a análise genética.

Como é o Tratamento da Dislipidemia?

Medidas não medicamentosas constituem um aspecto fundamental no tratamento da dislipidemia, não somente para a redução dos níveis lipídicos, mas também de outros fatores de risco cardiovascular.

Estas intervenções devem incluir terapia nutricional, exercícios físicos e cessação do tabagismo e devem ser direcionadas a todos os pacientes com dislipidemia. O tratamento farmacológico das dislipidemias depende de sua classificação e do risco cardiovascular do paciente.

As intervenções em pacientes de riscos baixo ou moderado envolvem, inicialmente, mudanças no estilo de vida, com associação à farmacoterapia se necessário para atingir as metas de LDL-colesterol. Em pacientes de risco alto ou muito alto, o tratamento inicial já inclui a terapia medicamentosa.

Frente à hipercolesterolemia isolada, recomenda-se o uso das estatinas, que podem ser associadas à Ezetimiba e à Colestiramina e, eventualmente, aos fibratos ou ao ácido nicotínico.

Evidências existentes também sugerem que o uso de ácido bempedóico pode ser considerado como alternativa para a redução de LDL-colesterol em casos de indivíduos intolerantes a estatinas, estando associado a um menor risco de eventos cardiovasculares adversos graves. 

No caso da hipertrigliceridemia isolada, indica-se prioritariamente o uso dos fibratos, sendo outras opções o ácido nicotínico e os ácidos graxos ômega-3. Em caso de hiperlipidemia mista, a taxa de triglicerídeos orienta o início do tratamento, indicando-se o uso inicial de fibrato em taxas acima de 500 mg/dL, pois a meta prioritária é a redução do risco de pancreatite, uma das complicações da condição.

Existem outras classes de medicamentos voltados para a dislipidemia, como os inibidores da pró-proteína convertase subtilisina/quexina do tipo 9 (iPCSK9), com indicações para tratamento específicas. A adoção de um tratamento medicamentoso para a elevação dos níveis de HDL-colesterol não é recomendada.

Complicações

A dislipidemia está fortemente associada ao desenvolvimento de doença arterial coronariana, evolvendo o processo de aterosclerose. A placa aterosclerótica inicia sua formação através da agressão ao endotélio vascular, que pode ser decorrente de fatores como hipertensão arterial, diabetes mellitus e tabagismo, e com a disfunção endotelial, ocorre o aumento da permeabilidade da túnica íntima arterial às lipoproteínas plasmáticas.

As lipoproteínas que contém como componente proteico a Apolipoproteína B (ApoB) e estão retidas na parede arterial promovem a deposição de lipídeos e o início do ateroma. Como LDL é a mais numerosa das lipoproteínas contendo ApoB, o tamanho da placa é predominantemente determinado por sua concentração. Assim, a dislipidemia compreende um importante fator de risco cardiovascular.  

Como consequência, a condição também é associada a eventos cardiovasculares maiores, como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular encefálico e morte. Outra situação clínica marcante é a pancreatite aguda, uma vez que níveis de triglicerídeos maiores que 500 mg/dL podem levar à ocorrência de ataques (Brasil, 2020a). A dislipidemia, assim como outros componentes da síndrome metabólica, também é associada à doença hepática gordurosa não alcoólica.

Prevenção

A adoção de hábitos alimentares saudáveis, com ingesta calórica reduzida, constitui importante medida para a prevenção da dislipidemia. Os ácidos graxos saturados, encontrados em alimentos como manteiga ou banha, são o fator dietético com maior impacto na elevação dos níveis de LDL-colesterol.

Assim, sua substituição por óleos ricos em gordura insaturada (cártamo, girassol, milho e soja) pode reduzir os níveis desses lipídeos. A ingestão de fibras presentes em leguminosas, frutas, vegetais e cereais integrais também apresenta um bom efeito hipocolesterolêmico. Além disso, a redução de peso e a prática regular de exercícios físicos são necessárias, uma vez que diminuem os níveis de triglicérides e aumentam os níveis de HDL-colesterol – o que também ocorre com a cessação do tabagismo.

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